Conteúdos Programáticos III

Neste separador colocarei todos os tópicos abordados durante o período letivo referentes ao tema 3 do livro adotado (PSI para SI).

Relações Interpessoais

Neste capítulo iremos estudar a forma e o modo como nos relacionamos com os outros ao longo da vida e de que forma as intenções que estabelecemos definem em grande parte do que fomos e somos. Como podemos observar pelas nossas experiências sociais passadas, a interação social leva a que nos questionemos acerca de tudo o que nos rodeia, como é o caso de:

  • O que pensamos dos outros?
  • Como nos relacionamos?
  • Como se formam os preconceitos?
  • Como influenciamos os outros e como somos influenciados?

Todas estas e outras perguntas acerca de como a cognição social (como formulamos impressões dos outros, assim como convicções relativamente aos mesmos) e a influência social (como é que o meu comportamento influencia o comportamento dos outros, e vice-versa) nos afeta apenas podem obter resposta através do estudo da nossa interação social, estudada em parte pela Psicologia Social.

Cognição Social e Fatores

Quando analisamos e estudamos a forma como a cultura e o modo como os seres humanos a integram através do processo de socialização, compreendemos as diferenças que nos distinguem dos restos dos animais. Como já era de esperar, o comportamento humano apresenta uma enorme complexidade e diversidade, dependendo da aprendizagem do sujeito, nas mais distintas relações com o meio envolvente. 

Desta forma, a cognição social é o conjunto de processos cognitivos e emocionais, através dos quais interpretamos, analisamos, recordamos e utilizamos as informações sobre o mundo social, destacando o modo como nos encaramos ou encaramos os outros. Através da cognição social somos capazes de interpretar as emoções da outra pessoa ou as nossas próprias emoções, por exemplo.

Sendo assim, a cognição social é um conjunto de processos que se irá basear em três pontos essenciais, pontos esses que interferem então com a forma de interpretarmos a realidade social em que estamos inseridos:

  • Valores
  • Crenças
  • Experiências

Todos estes fatores têm então a capacidade de alterar a forma como interpretamos a realidade, levando a que se alterem as impressões e atribuições, assim como a forma como nos vemos ou vemos os outros na nossa sociedade.

Processos de Cognição Social

Como temos uma capacidade limitada de processamento de informação relativa ao mundo social, geralmente, recorremos a esquemas (estrutura cognitiva através do qual o sujeito se adapta e organza objetos, situações, experiências, agrupando-os segundo as suas características principais) que acabam por representar o nosso conhecimento não só sobre nós, mas também sobre os outros e sobre os nosso papéis no mundo social. É então a partir desta forma específica de conhecimento, que processamos a informação sobre o mundo social, formando opiniões sobre nós e sobre os outros. Para compreendermos melhor, passaremos então a abordar alguns processos da cognição social:

  • Impressões
  • Expectativas
  • Atitudes
  • Representações Sociais

Impressões

Quando conhecemos alguém é comum destacarmos a ideia da nossa primeira impressão sobre o sujeito, ou seja, se nos deixou com boa ou má impressão.

Efetivamente, aquando do primeiro contacto com alguém que não conhecemos, construímos uma ideia, uma imagem sobre essa pessoa a partir de características e aspectos que consideramos mais significativos naquele momento e situação, levando a que avaliemos então o outro. Desta forma, a formação de impressões é um processo onde, condicionados pelos indícios recolhidos da pessoa, assim como aquilo que nós próprios somos, demonstramos e construímos uma ideia acerca da pessoa.

Para além do mais, os juízos ou avaliações que inferimos, sejam positivos ou negativos, acerca do outro, são denominados de perceção social

No entanto, caso pensemos na importância das primeiras impressões para a relação interpessoal no futuro, podemos observar que somos muitas vezes condicionados por este primeiro encontro, assim como a forma como avaliamos a pessoa. Para além disto, mesmo que, mais tarde, algumas das características que atribuímos aos outros não se verifiquem, temos tendência a rejeita-las, mantendo, normalmente as que se formularam incialmente. Deste modo, a formação das impressões é destacado como o processo pelo qual se organiza a informação acerca da outra pessoa, de modo a integrá-la numa categoria significativa.

O Efeito das Primeiras Impressões

As experiências de Solomon Asch, pioneiro da Psicologia Social, foram extremamente importantes para compreender melhor a complexidade da formação das impressões decorrentes do seu carácter e da sua multiplicidade de fatores intervenientes. A experiência de Asch baseou-se em mostrar duas listas de características de um certo sujeito a dois grupos de pessoas distintos. No primeiro caso, apresentavam-se as características positivas primeiro e no segundo caso, apresentavam-se as características negativas primeiro, no entanto, ambos os grupos eram defrontados com as mesmas características do sujeito, apenas se havia alterado a ordem em que estas surgiam.

Através deste estudo, observou-se que o conceito que formamos das pessoas encontra-se maioritariamente marcado pelas primeiras impressões do que por aqueles que surgem posteriormente. A este efeito duradouro das primeiras impressões denomina-se o efeito de ordem ou primazia.

Como disse anteriormente e voltei a reforçar, as primeiras impressões têm um peso maior e mais duradouro do que as impressões formuladas posteriormente, no entanto, caso se verifique uma constante inconsistência nas impressões formadas, após um conhecimento mais profundo, as primeiras impressões podem chegar a perder a sua força, levando a que se retifique e reavalie a perceção inicialmente formulada.

Formação das Impressões

Como referi anteriormente, não é possível recolher e armazenar toda a informação referente a objetos e às pessoas com quem contactamos. Deste modo, e por forma a simplificar todo este processo, procedemos a um processo de categorização, ou seja, reagrupamos os objetos, as pessoas, as situações em diferentes classes com base no que consideramos ser as suas diferenças e semelhanças, permitindo generalizar as características de uma categoria a todos os objetos, pessoas ou situações que a compõem. Sendo assim, as impressões baseiam-se na integração de uma pessoa numa categoria com base nos dados recolhidos no seu primeiro contacto. é assim que muitas vezes orientamos o nosso comportamento, uma vez que dão segurança às interações sociais, definindo o lugar não só dos outros, mas também o nosso, assim como as expectativas sobre o comportamento dos outros.

As primeiras impressões, para além de serem realizadas, de forma geral, com base no processo de categorização, encontra-se extremamente marcada pela afetividade ou pelas emoções, destacando-se a importância das nossas crenças, valores e experiências passadas.

Porém as impressões também se encontram extremamente marcadas por quatro indícios fundamentai:

  1. Indícios Físicos - Remetem para características físicas do indivíduo. Geralmente, associamos estas características físicas para determinado tipo de personalidade ou categoria social, como é o caso de se a pessoa for mais cheia, geralmente é associada à boa disposição e maior afabilidade. Nos indícios físicos também se integram as expressões faciais e os gestos.
  2. Indícios Verbais - Remete para a forma como a pessoa fala. No caso de utilizar um vocabulário preciso e uma adjetivação variada, considera-se, geralmente dotada de um pensamento claro, sendo culto. Por outro lado, se na sua fala reconhecermos um certo sotaque, podemos avalia-la com base na caracterização que fazemos dos habitantes daquela região.
  3. Indícios Não Verbais - Remete para os sinais ou elementos de uma pessoa. O modo como se veste, por exemplo, de fato e gravata, estilo desportivo, se usa sapatos ou ténis, são elementos que nos levam a inferir determinadas características da pessoa.
  4. Indícios Comportamentais - Remete para o conjunto de comportamentos que se observam e que permitem classificá-la. O modo como interpretamos os comportamentos dos outros varia de pessoa para pessoa, pelo que um mesmo comportamento pode ter significados distintos. Por exemplo, no caso de uma pessoa que apareça com roupa e materiais extremamente caros, pode ser vista por uns como rica e cuidada, no entanto outros podem observá-la como esbanjadora.

Expectativas

As expectativas surgem das impressões e da categorização e formam-se no processo de socialização, através da influência da família, da escola, dos grupos de pares e da media, por exemplo. As expectativas são então designadas como o modo de categorizar as pessoas com base nos indícios e nas informações recolhidas, tendo a possibilidade de prever o comportamento e as atitudes. Para além disto, as expectativas são mútuas, ou seja, o outro com quem interagimos desenvolve também expectativas relativamente a nós.

Deste modo, destacamos então que a conformidade com os papéis e estatutos possibilita a previsão dos comportamentos (expectativas) decorrentes da interação social. Para além dos mais, as expectativas influenciam ainda o nosso autoconceito, a nossa autoestima e comportamento.

Sendo assim, concluímos então que as expectativas condicionam o nosso comportamento e influenciam ainda o comportamento dos outros.

O Efeito das Expectativas - Efeito Pigmalião

Para se estudar o efeito das expectativas, destacou-se a investigação sistemática realizada por Robert Rosenthal em professores, com o objetivo de esclarecer os efeitos das expectativas dos professores relativamente aos alunos e as consequências no processo de aprendizagem:

Robert Rosenthal fez acreditar a professores do 1º ciclo que, após a aplicação de testes, alguns dos seus alunos iriam progredir significativamente em relação aos outros alunos. Na verdade, os alunos tinham sido escolhidos em vão, sem lhes ter sido aplicado qualquer teste. Oito meses depois os alunos cujo psicólogo tinha previsto uma melhoria melhoraram de facto. Isto porque os professores tinham criado expectativas positivas relativamente a esses alunos e, por isso, envolviam mais os alunos nas atividade escolares. As expectativas elevadas influenciaram o seu rendimento.

Desta forma, podemos então observar o efeito pigmalião em ação. As expectativas elevadas dos professores levaram a que houvesse uma alteração dos comportamentos e ações dos professores relativamente aos alunos ditos "especiais". Esta influência positiva levou a que, consecutivamente, também se alterassem os comportamentos dos alunos obtendo então um melhor percurso académico, ou seja, um aumento do rendimento.

Desta forma, concluímos então que as expectativas tem a capacidade de alterar e modificar comportamentos e ações. Para além do mais, dependendo se estas expectativas são positivas e motivadoras ou negativas e pessimistas também influenciarão o nosso percurso e futuro, já que condicionam a nossa autoestima e autoconceito.

Atitudes

As atitudes na linguagem corrente são equivalentes muitas vezes ao conceito de comportamento. No entanto, as atitudes são descritas na Psicologia como uma tendência ou predisposição relativamente estáveis para responder a um objeto social (pessoa, situação, grupo ou acontecimento) de modo favorável ou desfavorável. Sendo assim, a atitude não é um comportamento, mas sim uma predisposição, uma tendência relativamente estável para uma pessoa se comportar de determinada maneira, sendo então uma tomada de posição intencional de um indivíduo face um objeto social. Para além do mais, as atitudes diferem dos comportamentos pelo facto de não serem observáveis, sendo possível inferir comportamentos através de atitudes, e vice-versa.

Como já nos foi possível observar e compreender as atitudes, tal e qual como qualquer outro processo da cognição social, forma-se através do processo de socialização com base em:

  1. Influências Familiares
  2. Escolas
  3. Grupos de Pares
  4. Media/Redes Sociais

Sendo assim, destacamos que as atitudes se formulam essencialmente por observação, identificação e imitação dos modelos considerados importantes por nós, como é o caso dos pais, dos professores, figuras públicas, entre outros (Aprendizagem por Observação e Imitação - Albert Bandura).

Componentes das Atitudes

Com especial incidência na infância e na adolescência, no entanto, construídas ao longo de toda a vida, as atitudes envolvem diferentes componentes interligadas entre si. Nas atitudes podemos distinguir três componentes:

  1. Componente Cognitiva - Constrói-se através do conjunto de ideias, de informações e de crenças que se tem sobre um dado objeto social (pessoa, grupo, objeto ou situação). Normalmente caracteriza-se como aquilo a que consideramos como verdadeiro acerca do objeto social. Exemplo: "Ler desenvolve a capacidade intelectual, o exercício físico faz bem à saúde", baseia-se numa informação ou convicção.
  2. Componente Afetiva - Tal e qual como o nome indica, é o conjunto de valores e emoções, sendo estas positivas ou negativas, relativamente a um dado objeto social. Normalmente está associada ao sistema de valores, tendo uma direção emocional. Exemplo: "São iniciativas positivas porque as consequências são boas", baseia-se num sentimento ou emoção.
  3. Componente Comportamental - Destaca-se como o conjunto de reações, ou seja, respostas, face a um dado objeto social. Esta disposição para agir de certa forma depende então das crenças e dos valores que se tem relativamente ao objeto social. Exemplo: "Faz-se exercício físico e lê-se", baseia-se num conjunto de comportamentos.

Dissonância Cognitiva

Como podemos observar anteriormente, as atitudes destacam-se através de três componentes extremamente importantes. No entanto, nem sempre as componentes comportamentais dependem das componentes cognitivas e afetivas, uma vez que as nossas atitudes face ao mundo não são isentas de incoerências. Para além dos mais, são exatamente essas incoerências que se podem fazer sentir quando, por exemplo, as nossas convicções não coincidem com a realidade ou então diferentes componentes das nossas atitudes não se encontram semelhantes, como é o caso de crenças e comportamentos divergirem.

Desta forma, Leon Festinger, psicólogo norte-americano, desenvolveu a teoria da dissonância cognitiva, onde analisou um certo desconforto e tensão quando, por exemplo, duas crenças sobre um mesmo objeto ou situação social não eram semelhantes.

Desta forma, tem-se vindo a estudar como é que se pode dissipar esta tensão provocada pela contradição entre crenças e comportamentos face ao mesmo objeto ou situação social. Pensemos no caso dos fumadores de tabaco comum. Quando se apresentam estes indivíduos, geralmente todos sabem que fumar provoca cancro, algo extremamente grave e que pode ser muitas das vezes mortal para o sujeito. No entanto, muitas das vezes estas contradições entre as suas crenças e conhecimentos e a realidade são combatidas de quatro formas, principalmente:

  1. Acabando por modificar uma ou ambas as convicções. Exemplo: Na realidade, eu não fumo assim tanto para que possa desenvolver cancro".
  2. Mudando a importância percebida de uma cognição. Exemplo: "Não existem fortes evidências de que fumar provoca realmente cancro".
  3. Adicionando cognições adicionais. Exemplo: "Faço tanto exercício que não importa se fumo ou não".
  4. Negando que as cognições se encontrem relacionadas. Exemplo: "Não existem fontes suficientes que relacionem o tabaco ao cancro".

Representações Sociais

Antes de ser aplicado à Psicologia, o conceito de representação referia-se a uma imitação mental interiorizada, ou seja, percepcionada. De facto, é através da representação que somos capazes de evocar uma pessoa, uma ideia, um objeto ou uma situação na sua ausência.

Porém, Serge Moscovici, psicólogo social romeno, irá desenvolver o conceito da representação social na década de 60 destacando-a como: "Um conhecimento que se distingue do conhecimento científico, elaborado a partir de modelos culturais e sociais e que dão quadros de compreensão e interpretação do real".

Desta forma, podemos definir as representações socias como o conjunto das explicações, das crenças e das ideias que são partilhadas e aceites coletivamente numa determinada sociedade ou por grupos sociais e que são produto das interações sociais. Estas representações funcionarão então como um regulador do comportamento humano.

Geralmente, as representações sociais são associadas ao conhecimento do senso comum e são características de uma determinada época, sociedade ou cultura. Sendo assim, é através destas representações sociais partilhadas pelos membros do grupo que estes mesmos se entendem e comunicam.

Influência Social

Vivemos em sociedade, integrados em diferentes grupos sociais, e é nestes contextos, como a família, a escola ou o grupo de pares que tomamos as nossas aprendizagens sociais. É através do processo de socialização que integramos normas, valores e atitudes, assim como comportamentos desejáveis da sociedade a que pertencemos. Desta forma, podemos observar que todas as pessoas encontram-se influenciadas pelas outras dento de uma mesma sociedade, embora muitas vezes não tomem consciência de tal.

Acerca dos funcionamentos dos grupos sociais estuda-se com extrema importância a influência que os elemento que compõem o grupo exercem sobre os outros, designando-se este aspecto por interação social.

A influência social é então o processo pelo qual as pessoas modificam, afetam os pensamentos, os sentimentos, as emoções e os comportamentos de outras pessoas. Todo este processo decorre da própria interação social, não tendo ser necessariamente intencional ou deliberado.

Processos de Influência entre os Indivíduos

A influência social manifesta-se em três grandes processos, que decorrem da interação social, que vamos analisar para compreender o seu efeito no comportamento nas mais variadas exigências das situações, contextos e sistemas instituídos:

  1. Normalização
  2. Conformismo
  3. Obediência

Normalização

Através do processo de socialização, integramos um conjunto de regras, de normas vigentes na sociedade em que estamos inseridos e que regulam os comportamentos, dos mais simples ao mais complexos. As normas, sendo assim, estruturam as interações com os outros e são aprendidas no vários contextos sociais, na sua prática. A sua aprendizagem, no entanto, não é consciente.

A normalização destaca-se então como o processo de criação de normas por parte das pessoas que constituem um grupo quando elas não estão explícitas. Estas normas, geralmente, destacam-se como:

  • Veiculadas no processo de socialização.
  • São uma expressão da influência social.
  • Estruturam as interações com os outros.
  • São aprendidas nos vários contextos sociais.
  • Refletem o que é socialmente desejável.
  • Orientam o comportamento.
  • Permitem prever o comportamento dos outros.
  • Estáveis no tempo
  • Asseguram a identidade do grupo.

As normas traduzem os valores dominantes de uma sociedade ou de um grupo, constituindo elementos de coesão grupal, funcionando como um fator de coesão grupal, uma vez que estabelecem um sistema de referência comum para o dado grupo social: atitudes e padrões de comportamento. As normas funcionam então como facilitadoras do processo de adaptação ao meio social, estabelecendo padrões de avaliação aos comportamentos. Por fim, o cumprimento das normas apresentam-se como uma exigência da vida social, pelo que a sua não aceitação ou desvio implicam sanções em dois tipos: difusas (Exemplo: Um olhar reprovador) ou explícitas (Exemplo: Castigo social).

Muzafer Sherif, psicólogo turco extremamente conhecido pelos seus avanços na psicologia social, por forma a esclarecer e estudar a importância das normas na sociedade ou grupo social, realizou experiência, denominada de experiência do efeito autocinético. Segundo Sherif, a normalização consistia na criação de normas pelo grupo quando elas não existiam anteriormente, uma vez que estas eram destacadas e tratadas como um processo fundamental para a convivência e interação social, já que estas normas, aquando reconhecidas por todo o grupo, facilitavam a integração na sociedade. 

A experiência de Sherif consistiu em colocar um indivíduo num quarto escuro e pediu-se para observar um ponto luminoso fixo. Em plena escuridão, as percepções visuais degradam-se e o ponto luminoso parece efetivamente deslocar-se: é o fenómeno da ilusão autocinética. Pede-se então ao sujeito que faça uma estimativa do deslocamento do ponto. Ele formula uma série de estimativas que pouco se estabilizam em torno de uma estimativa que corresponde à sua norma pessoal, norma que ele tenderá a reproduzir noutras tentativas. Essa norma pessoal apresentará grandes diferenças das estimativas dos outros sujeitos. Isto porque, numa segunda fase, quando as normas pessoais foram assim fixadas, cada sujeito é colocado diante das estimativas dos outros e todos exprimem as suas estimativas em voz alta.

Nesta situação, as interações dos membros acarretam uma modificação das estimativas de cada um dos indivíduos, que abandonam as suas próprias normas pessoais por forma a estabelecerem, através da cooperação com os outros, uma norma de grupo. Durante a experiência, o sujeito toma consciência de um desvio entre as suas próprias estimativas e as dos outros membros do grupo. As diferenças, porém, são reduzidas e constitui-se uma norma para o grupo em questão.

Através da descrição da experiência anterior, podemos observar como os resultados nos surpreendem e corroboram ainda mais a importância da existência de normas conhecidas por todo o grupo social, para que se alcance uma convivência e interação social agradável.

Como podemos observar, os resultados ou análises individuais de cada sujeito apresentavam-se extremamente distintas e com diferenças acentuadas. No entanto, observamos também que quando os julgamentos ou resultados eram realizados no interior de um grupo, em voz alta, principalmente, as diferenças eram rapidamente suavizadas e corrigidas. Deste modo, podemos observar como a pressão do grupo exerceu um efeito normalizador, pelo simples facto dos vários sujeitos utilizarem o comportamento dos demais indivíduos por forma a corrigirem e construírem um quadro de referência individual.

Conformismo

Na nossa experiência de vida pessoal, já nos deparamos com situações por vezes desconfortáveis que nos levaram a não expor a nossa opinião sobre um dado assunto ou acontecimento. Por exemplo, caso víssemos um filme com um grupo de indivíduos e todos eles gostassem do filme, exceto nós, possivelmente acabaríamos por guardar a nossa opinião pessoal ou até mesmo concordar com os demais, mesmo que esse não seja o nosso verdadeiro sentimento ou opinião.

Desta forma, o conformismo é destacado como uma forma de influência social que resulta do facto de uma pessoa mudar o seu comportamento ou as suas atitudes por efeito da pressão do grupo.

Um psicólogo extremamente conhecido e já estudado anteriormente, Solomon Asch, psicólogo norte-americano nascido na Polónia, foi extremamente importante na década de 1950 no estudo realizado no âmbito de avaliar a conformidade de um indivíduo face a um grupo social.

A experiência de Solomon Asch para estudar a conformidade de um indivíduo face a um grupo social era a seguinte:

  • Oito sujeitos foram colocados diante de um quadro com varias cartolinas. Cada cartolina continha do lado esquerdo um linha vertical (figura de base) e à direita três linhas verticais de comprimentos diferentes, numeradas de 1 a 3, uma das quais representava a linha de base. Neste grupo, apenas um destes indivíduos é o real sujeito experimental, ou seja, o sujeito ingénuo, uma vez que os restantes sete são atores pagos para errarem doze das dezoito respostas apresentas. Para além do mais, estes sete indivíduos respondem primeiramente à resposta, sentindo-se o sujeito experimental pressionado pelo grupo, mesmo que não seja de forma direta, na tentação de responder errado apenas para se "conciliar" com os restantes.

Com base nesta experiência extremamente simples, Solomon Asch conseguiu concluir a sua hipótese inicial, avaliando então o comportamento conformista de um indivíduo face a um grupo social que o integre. Através dos resultados, podemos observar que cerca de 75% dos sujeitos experimentais cederam pelo menos uma vez à pressão do grupo e respondeu de forma errada, tal e qual como os restantes sujeitos. Desta forma, destacamos então como a pressão do grupo pode conduzir aos indivíduos a aderir a um juízo distinto do seu, embora tenha total certeza da sua resposta. Para além disto, podemos ainda destacar como segundo a influência do grupo, as pessoas tendem a ser menos independentes e seguras de si mesma e dos seus juízos, pelo que a pressão do conformismo, como foi referido anteriormente, leva a que a se perca e desencoraje a minoria a apresentar a sua opinião ou o seu ponto de vista face ao grupo social.

Fatores do Conformismo

Após a realização da experiência, Asch procurou, através da entrevista com os sujeitos experimentais, compreender os processos subjacentes ao comportamento conformista. A partir destes dados, Asch procurou então identificar os fatores que influenciam e explicam o conformismo, tais como:

  1. Unanimidade do Grupo - O conformismo apresenta-se mais assente nos grupos em que haja unanimidade. No entanto, basta apenas um indivíduo partilhar de uma opinião distinta da do grupo para que os efeitos do conformismo sejam menores. No caso da experiência de Asch bastava que um indivíduo respondesse de forma correta para que os efeitos do conformismo descessem drasticamente.
  2. Natureza da Resposta - Geralmente, o conformismo aumenta quando a resposta é dada publicamente. Sendo assim, a aceitação a resistência à aceitação da opinião da maioria é maior quando a privacidade é assegurada.
  3. Ambiguidade da Situação -  A pressão do grupo aumenta quando não estamos certos do que é correto. Desta forma, é maior o conformismo quando as tarefas ou as questões são ambíguas, não sendo clara a e inequívoca a opção.
  4. Importância do Grupo para o Indivíduo - Quanto mais atrativo foi o grupo para a pessoa, maior é a probabilidade de ela se conformar.
  5. Autoestima - As pessoas com um nível mais elevado de autoestima são mais independentes do que as que têm uma autoestima baixa.

Obediência

A obediência é uma expressão da influência social que se manifesta, na esmagadora parte das vezes, quando as pessoas não se responsabilizam pelas ações cometidas, ou seja, é a tendência das pessoas para se submeter e cumprir normas e instruções definidas e ditadas pelos outros.

A questão e o estudo da obediência foi extremamente elaborada e estudada, na década de 70 do século XX, pelo psicólogo americano, Stanley Milgram, que se questionava e intrigava com o porquê dos militares alemães terem exterminado milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Sendo assim, Milgram desenvolveu uma experiência no âmbito da influência social, mais especificamente, a submissão à autoridade, descrita a seguir:

  • Milgram recrutou 40 voluntários homens, entre 20 e 50 anos. Todos eles foram apresentados a dois atores: um que representava um suposto pesquisador e outro que fingia ser um voluntário. Posteriormente, o pesquisador "sorteava" os papéis que cada um dos homens iria exercer - embora sempre fosse combinado que o ator que fingia ser voluntário seria sempre o aluno. O aluno era amarrado a uma cadeira com eletrodos em uma sala do laboratório e ele deveria decorar uma lista de pares de palavras. O professor, em outra sala do laboratório, deveria testar a memória do aluno, pedindo para que ele relembrasse as palavras associados aos termos que pronunciava. Cada vez que o aluno errasse, o professor era instruído pelo pesquisador a administrar um choque elétrico no indivíduo. O nível do choque aumentava gradualmente - ia de 15 até 450 volts. Como fazia parte do estudo, o aluno errava propositalmente grande parte das vezes. Caso o professor se recusasse a acionar o choque elétrico, o pesquisador tentava induzi-lo a realizar o ato.

Com base nesta experiência, Milgram obteve imensos resultados que demonstravam o papel esmagador da obediência na nossa sociedade. Primeiramente, realça-se que 100% dos participantes aplicou choques de 300 volts, onde o aluno começava a entrar em estado de pânico, 35% dos participantes aplicou choques entre 300 e 375 volts, no entanto recusou-se a continuar, e 65% dos participantes continuou a experiência até ao fim, aplicando os 450 volts tantas vezes quanto lhes fossem solicitadas. Sendo assim, com este estudo, Milgram demonstrou a tendência para não resistir às exigências da autoridade, embora soubessem que não são nem ética nem moralmente aceitáveis. Desta forma, Milgram concluiu que as pessoas recebem ordens de uma autoridade que reconhecem como legítima (neste caso o pesquisador ou experimentador da experiência de Milgram) e não se sentem responsáveis pelas suas ações, levando a rigor a obediência.

Fatores da Obediência

Como nos foi possível observar, a experiência de Milgram levou os investigadores a averiguarem quais as condições que favorecem o comportamento obediente:

  1. Proximidade com a Figura de Autoridade - Quanto mais próxima estiver a figura de autoridade, maior é a obediência, pelo facto das pessoas se sentirem mais intimidadas, o que as levam a obedecerem mais. No caso da experiência de Milgram, a obediência, quando feita através de um telefone, baixava para 20,5%.
  2. Legitimidade da Figura de Autoridade - Quanto mais reconhecida for a autoridade, maior é a obediência.
  3. Proximidade da Vítima - Nas várias experiência de Milgram, este fez variar o contacto e a proximidade entre os alunos e os professores. Na situação em que não havia qualquer contacto, 100% dos participantes atingia a voltagem máxima, no entanto, quando os alunos eram vistos pelos professores, a percentagem baixava para 40%, baixando para 30% quando os professores tocavam e comunicavam com o aluno.
  4. Pressão do Grupo - Milgram procurou saber o que aconteceria numa situação de grupo em que dois dos sujeitos se recusavam às ordens dadas. Nestas situações apenas 10% infligia descargas elétricas até aos 450 volts. Sendo assim, o efeito de grupo anulou a autoridade do experimentador ou pesquisador.
  5. Contexto Institucional - A realização da experiência em contextos distintos revelou ligeiras alterações na obediência.
  6. Traços da Personalidade - Não se observou correlação significativa entre traços de personalidade e obediência.
  7. Diferença Cultural - A tendência para a obediência parece ser transcultural, embora existam pequenas variações de cultura para cultura.
  8. Atitudes e Ideologias - As pessoas religiosas revelaram ser mais obedientes do que as não religiosas.

Fatores do Conformismo vs Fatores da Obediência

De forma a apresentar mais alguns fatores relativos ao efeito do conformismo e da obediência deixarei a seguinte imagem explicativa:

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